Angola Cables diversifica serviços para enfrentar mercado mais competitivo

Pode-se dizer que a Angola Cables tenha ancorado no Brasil de maneira definitiva em 2018, quando o primeiro cabo submarino ligando Brasil e a África, o SACS, foi ativado, e desde então a empresa se tornou um player importante no segmento de capacidade e data center. Só que naquele momento, todas as estimativas de retorno de investimentos eram feitas considerando um preço por Mbps de US$ 4. Hoje, a realidade é outra, e com o acirramento da concorrência as empresas de capacidade enfrentam um preço base de US$ 0,20 por Mbps. “A nossa resposta é a diversificação dos negócios, com novos serviços agregados”, diz o presidente da empresa, Ângelo Gama, que assumiu o comando da operadora no ano passado, em entrevista a este noticiário.

Ele explica que a empresa tem hoje um gabinete de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de soluções específicas, como o produto IP Gamer, um produto concebido no Brasil mas hoje ofertado globalmente pela Angola Cables em que a capacidade e os servidores foram otimizados para atender ao mercado de games. Outro foco da empresa é o desenvolvimento de CDNs (servidores dedicados a serviços de mídia) e a atração de parceiros globais para a sua rede, como Microsoft, Facebook e Netflix. “São 30 pontos de presença e 20 data centers por onde criamos essa rede global”.

A Brasil foi uma aposta importante para a empresa e hoje já representa o principal mercado fora da África, mas como diz Ângelo Gama, “foi uma aposta importante, mas hoje temos sido muito mais cautelosos porque o cenário é outro. As margens de sucesso são menores e por isso é preciso ser mais conservador”. Segundo o executivo, o momento agora é de fechar parcerias globais, em que as margens podem ser menores, mas ganha-se na escala. Ainda assim, diz ele, já é chegado o momento de alguns investimentos para ampliar a capacidade dos cabos no Brasil. “A crise do Covid fez duplicar o nosso tráfego, passamos da casa de 1 Tbps e nossa capacidade no Monet terá que passar por um upgrade”, diz ele. O Monet é um cabo submarino que liga Brasil aos EUA e em que a Angola Cables têm algumas fibras.

Gama acredita que esse crescimento de tráfego, muito impulsionado pela ampliação do mercado de banda larga no Brasil, tende a crescer ainda mais com o mercado de 5G, ainda que o Brasil tenha uma característica de um tráfego endógeno, ou seja, 70% do conteúdo consumido na Internet brasileira está no próprio país.

Transformação na África
Ao mesmo tempo, ol principal mercado da Angola Cables é no continente africano, que segundo Gama está passando por um processo de transformação relevante. “Hoje as maiores taxas de crescimento de serviços de banda larga fixa e móvel no mundo são nos países africanos, e isso tem chamado a atenção dos provedores globais de conteúdo”, diz ele. Segundo o CEO da Angola Cables, empresas como Netflix e Facebook estão buscando cada vez mais o continente africano em suas estratégias de crescimento, o que aumenta a demanda por capacidade nas redes submarinas e datacenters, e assim como aconteceu em todo o mundo, alguns mercados estão se desenvolvendo rapidamente em termos de acesso.

Ele exemplifica com o seu próprio país, Angola. “Temos cerca de 120 empresas licenciadas para serviços de Internet, das quais 12 estão operando como ISPs”, diz ele. Com 33 milhões de habitantes, Angola é uma fração do mercado brasileiro, mas Gama acredita que a experiência dos modelos praticados pelos ISPs no Brasil pode se replicar por lá.

Angola Cables desenvolveu em parceria com o governo o programa AceleraNET. O programa é dedicado ao desenvolvimento de provedores de acesso à Internet pelo país. No modelo do programa, os investimentos e custos atrelados à contratação de capacidade para interligar o provedor se tornam um percentual da receita por usuário e, assim, acabam diluídos no tempo e pagos conforme a empresa cresce. “O ISP não precisa fazer um investimento inicial tão alto e nós temos uma participação nas receitas destas novas empresas”.

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